sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

DIVISÃO AUXILIAR A ESPANHA 1793 A 1795 (Rossilhão e Catalunha)

A viagem dos nossos militares foi terrível na medida em que a esquadra teve que enfrentar ventos contrários fortíssimos, tempestades e doenças a bordo, o que fizeram dessa jornada um autêntico calvário, basta afirmar que partiram a 20 de Setembro e só a 9 de Novembro é que as nossas tropas desembarcaram em Rosas, na Catalunha num estado de comiseração extraordinário, basta pensar que levaram dois meses, menos onze dias, a percorrer essa curta distância (sensivelmente de Lisboa a um pouco mais acima de Barcelona).


Desembarque das tropas portuguesas em Rosas

Após o desembarque, o General Antonio Ricardos deu ordem de marcha às  tropas portuguesas que chegaram ao acampamento espanhol nos dias 25 e 26 de Novembro, sofrendo as intempéries de uma dura estação invernosa nos Pirenéus, chegando de tal modo fatigadas e exaustas que mais pareciam que tinham terminado uma guerra desastrosa, quanto mais irem-na começar; mas não foi por isso que não deixamos de nos portar com grande valor e admiração pelos nossos aliados e contrários.

General Antonio Ricardos
 A campanha de 1793 foi bastante favorável às nossas armas e a do ano seguinte extremamente desastrosa culminando com a entrega da praça de São Fernando de Figueras, onde se deram combates terríveis tendo, de um e do outro lado, havido imensas perdas, morrendo o General-em-Chefe do Exército Francês Jacques François Dugommier, e do outro o Conde da União, que de modo algum se resignava ao desgosto de se ver vencido em terras de Espanha.


General-em-Chefe do Exército Francês
Jacques François Dugommier
Cláudio de Chaby (1) culmina a narração das campanhas afirmando:
(...) bastante glória adquiriram as armas peninsulares na primeira campanha dos Pirenéus orientais em 1793, em que lutando o engenho e a força, lograva aquele, quase sempre, a superioridade: reveses sucessivos na seguinte campanha, mas, por entre as desgraças, brilhando resplendendo o valor dos filhos da península, inutilizado valor pela tibieza de um general, não bem aproveitado pela energia do outro, de quem aliás, a mesma qualidade de valoroso era um dos mais  apreciáveis dotes (...)

(1) In: "Excerptos Históricos", Tomo I, por Cláudio de Chaby, Lisboa 1863, pp.131 e 132.


Durante a campanha de 1795 deu-se um volte face e após cerca de dois anos de uma árdua campanha, durante o Inverno, num local inóspito e terrível, finalmente nos dias 1 e 2 de Março os dois exércitos encontraram-se pela última vez frente a frente, tendo-os a separar o Fluvial, os franceses decidiram-se pelo assalto, e são derrotados; a este ataque seguiram-se outros, que surtiram o mesmo efeito, colocando-se o inimigo em fuga, o que adicionando a esta derrota, a vitória alcançada pela esquadra espanhola na baía de Rosas, incrementou um tal entusiasmo nas tropas combinadas Luso-Espanholas, que o General Urrutia decide inverter os papéis e invade, por sua vez, o território da República Francesa; esta evasão foi executada com um êxito magnífico, tendo sido a primeira praça atacada Ping Cerda, seguindo-se a entrega de Belver, tendo-se nessas acções as tropas portado com tal bravura, que o governo de Madrid lhes rasgou o maior dos elogios. Os franceses à vista dos soldados da península debandavam por toda a parte, as nossas tropas, cheias de entusiasmo, devido a este novo renovar de forças, estavam extremamente motivadas e decididas a seguir a campanha pela França fora, quando a notícia do tratado de paz da Basileia apanhou as tropas vitoriosas de surpresa que de imediato lhes arrefeceram o ímpeto. Eram tão vantajosas as condições em que se encontravam as forças combinadas e tão difícil a defesa da fronteira oriental da França, pelo inimigo, que para os militares aliados a paz não foi nada bem recebida.


General Urrutia
  A paz entre a França e a Espanha, foi assinada a 22 de Julho de 1795, e o governo espanhol cometeu então a vilania de não pronunciar, sequer, o nome do seu aliado, ficando Portugal, assim, perante a França, como um dos seus inimigos isolados, quando em boa verdade,  só a tinha combatido em respeito, uma vez mais, à boa-fé dos tratados acordados por ambos e só cumpridos por nós, não tendo sido pequeno o espanto da nossa Divisão Auxiliar, porque o General Forbes, não recebera nenhum aviso de Lisboa, que o prevenisse de que se estava a tratar da paz, o que na realidade Lisboa desconhecia de todo.

Concluiu-se a paz de um modo pouco honroso para a Espanha, livrando a França de uma guerra que a estava a incomodar, assegurando-lhes as vantagens que sempre cabem aos vencedores; em Madrid a paz anunciou-se a 15 de Setembro de 1795 e no dia 17 já os prisioneiros portugueses estavam reunidos à Divisão Auxiliar, tal era a pressa que os franceses tinham em abandonar as posições que ocupavam... as praças espanholas, que estavam na posse do inimigo foram rapidamente abandonadas, uma vez que estando desejosos para regressarem aos seus corpos, verificando-se que para "vencedores" a ansiedade para se verem livres daquela guerra era muito grande!

Cláudio de Chaby (2) uma vez mais no esclarece que: (...) quando o exército espanhol se apresentava numeroso e aguerrido, favorecido pela vitória, sabiamente comandado, quase a compensar e fazer esquecer todos os revezes que o haviam oprimido; próximo a arrojar do País o exército contrário, podendo ditar, ou mesmo aceitar, no território da França, decentes e honrosas condições de paz, foi então o governo da Espanha, ou o fatal destino a que não podia esquivar-se esta grande nação, como destino prescrito pela providência, impôs ao exército e à nação uma paz inoportuna e quase vergonhosa, como se as circunstâncias dos respectivos exércitos fossem inversas, e o governo da república tivesse o direito que dá a força, para fazer aceitar a paz estipulada sob princípios a seu talante arbitrados (...).


(...) O exército espanhol na Catalunha ostentava-se ansiosamente dominado pelo desejo de salvar a honra da pátria, mas o governo, que nos seus cálculos diplomáticos, parece, não fazia entrar as considerações sobre as cisrcunstâncias da guerra, humilhou-se ante as exigências do governo de Paris, humilhou a nação, e humilhou o exército!(...) No meio destas pungentes amarguras e humilhantes abatimentos, surgiu ainda assim o engrandecimento de um homem: D. Manuel Godoy-Duque de Alcudia que passou a ser o Príncipe da Paz! (...)

(2): Obra cit.,99.160

Carlos IV
Antes do regresso a Portugal da Divisão Auxiliar, o rei Carlos IV, para não se mostrar ingrato e querendo agraciar as nossas tropas, condecorou o Marechal-de-Campo João Forbes Skellater com a Grã-Cruz da Ordem de Carlos III, nomeando-o Tenente-General dos seus Exércitos.

Finalmente os componentes da Divisão embarcaram no dia 28 de Outubro de 1795, rumo à Pátria, entrando a esquadra na foz do rio Tejo nos dias 10 e 11 de Dezembro, chegando os nossos militares a tempo de passar o Natal com a Família.
Textos coorden por: marr


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

DIVISÃO AUXILIAR A ESPANHA 1793 A 1795 (Rossilhão e Catalunha)

PREÂMBULO



"os patíbulos que se íam erguendo..."

A revolução francesa entrara no seu período mais sanguinário, todas as crueldades e excessos se praticavam em nome da nova república onde a guilhotina não parava de laborar em todos os patíbulos que se iam erguendo ao longo da França com maior
incidência na capital. Todo este excesso era devido a uma reacção em cadeia e violentíssima que acabava por sintetizar, em quatro anos, a repressão e os abusos exercidos durante séculos sobre a população.


A tomada da Bastilha




Execução de Marie Antoinette

A Europa enganou-se quando timidamente acolheu com entusiasmo moderado os primeiros sinais de transformação política, tendo aplaudido o heroísmo dos parisienses na tomada da bastilha... cedo se começou a verificar a realidade, quando na noite de 6 de Outubro uma chusma selvagem e sanguinária aprisionou a sua rainha, Maria Antonieta, perante os maiores vexames, tendo subido ao cadafalso em 1793 e nesse mesmo ano o seu marido, Luís XVI, foi guilhotinado, decretando-se a abolição da realeza em França.


Execução de Louis XVI
  Foi com a precipitação destes acontecimentos que todas as monarquias europeias estremeceram do seu estado letárgico e num brado geral reprovaram as medidas tomadas pelos revolucionários.






General Joseph Servan

Finda a campanha de 1792 as tropas republicanas francesas posicionaram-se na fronteira da Holanda, na margem direita do Reno, nos cumes dos Alpes e na margem esquerda do Vare. Entretanto o exército comandado pelo General Servan vigiava, nos Pirenéus, as movimentações das tropas espanholas, que seriam tudo menos amistosas...


A Espanha, como era de prever, declarou guerra à República Francesa e pouco depois Portugal aliava-se com o reino vizinho, todos estes factos se deveram à invocação, pelos espanhóis, do perigo que os tronos ibéricos corriam e às alianças existentes entre os dois reinos, conseguindo assim lançar uma nova potência contra a nova república.


Príncipe Regente D. João
(Futuro Rei D. João VI)

D. Maria I







A 15 de Junho de 1793, foi assinado um tratado em Madrid por D. Manuel Godoy, Duque de Alcudia e futuro Princípe da Paz e por D. Diogo de Noronha, nosso embaixador junto da corte de Madrid, que obrigava Portugal a enviar para os Pirenéus uma Divisão Auxiliar.


D. Manuel Godoy
No dia 20 de Setembro desse mesmo ano zarpou do Tejo, escoltado por catorze navios de transporte, uma esquadrilha composta pelas naus "Medusa", "Bom Sucesso" e "São Sebastião", e pela fragata "Vénus"; todos estes navios era superiormente comandados pelo Chefe-de-Divisão Pedro Mariz de Sousa Sarmento, nela embarcou a Divisão Expedicionária sob o comando do Tenente-General João Forbes Skellater que era composta por cerca de cinco mil e quatrocentos militares, que compunham seis regimentos de infantaria e quatro companhias de artilharia.

Tenente-General
João Forbes Skellater
Colecção particular

A juntar-se a estes militares ia um número apreciável de voluntários nobres, estrangeiros, principalmente franceses emigrados e portugueses, nestes inlcuiam-se: o 2.º Duque de Northumberland, o Príncipe de Montmorency e o Marquês de Nisa.


Marquês de Nisa
Colecção particular


2.º Duque de Northumberland


Coorden. do texto: marr

domingo, 13 de fevereiro de 2011

LUSITANOS - SERTÓRIO

General romano que nasceu em Núrsi, na Sabina, por volta do ano de 122 A.C. e morreu assassinado no ano de 72 A.C., - segundo Pinheiro Chagas - Sertório seguiu primeiro a carreira do Foro em que se distingui muito, tendo depois servido na guerra contra os Cimbros às ordens de Cipião e em seguida sob o comando de Mário, foi enviado, já como Tribuno Militar para a Península Ibérica. Nomeado Questor, depois de ter regressado a Roma, foi enviado para a Gália, onde combateu e venceu os inimigos de Roma, tendo ai recebido muitos ferimentos e perdido um dos olhos.

Durante a guerra social, ao impedir a rebelião da Cisalpina, chamou sobre si os ódios de Sila, pela sua dedicação ao partido de Mário, regressando a Roma com ele.

Quando Sila recuperou o poder, despachou de imediato Sertório para a Península Ibérica, tendo ele aqui continuado a luta contra a aristocracia onde arranjou muitos inimigos, principalmente Aunio, lugar-tenente de Sila.


Morte de Sertório
Gravura do século XIX Colecção particular

Quando os Lusitanos de novo se sublevaram, após o assassinato de Viriato, Sertório foi convidado para comandar a insurreição o que aceitou,  pois viu aí um meio para combater a aristocracia romana. Assim, sob o comando de Sertório os Lusitanos obtiveram imensas vitórias, sobre os generais romanos, não tardando a dominar não só a Lusitânia como a Bética.

A sua fama atraiu muitos dos seus compatriotas que se tinham revoltado contra o poder de Roma. O primeiro general que ele venceu foi Metelo que ao tentar tomar Lacobriga foi completamente derrotado por Sertório, que acudiu em socorro da praça. Seguiram-se muitas vitórias e algumas derrotas, que curiosamente tinham efeito contrário em Sertório, uma vez que não se deixava abater por elas, dando a entender que na desgraça ia buscar novas forças para o combate. Tal era a fibra deste grande chefe dos Lusitanos.

Curiosamente, Sertório acabou por prestar um grande serviço a Roma, introduzindo a civilização, as artes, a política e os costumes destes, tendo acabado por romanizar quase toda a Ibéria, dividiu os seus domínios em duas províncias: a Bética que tinha por capital Osca e a Lusitânia, cuja capital era Évora, residência favorita do chefe Lusitano.
A Sertório se deve o ter tirado - segundo Pinheiro Chagas -  (...) o modo selvagem e brutal que os Lusitanos usavam no combate, fazendo-lhes adoptar as armas, a formatura e a disciplina romana; transformado uma verdadeira multidão de salteadores num verdadeiro exército. Além disso distribuía com mãos largas a prata e ouro para ornar os capacetes ou embelezar os escudos, e incitava os seus subordinados a usarem túnicas e mantos bordados (...).
Morte de Sertório
Ilustração do mestre Carlos Alberto Santos
Por especial autorização para este blogue
Colecção particular
Por ironia do destino morreu este general romano e grande chefe dos Lusitanos, de um modo idêntico ao do seu antecessor. Depois de uma prolongada guerra com Metelo e Pompeu, que tinham sido enviados pelo Senado no ano de 76 A.C., acabou por ser assassinado no ano de 72 A.C., num banquete em sua honra, por um dos seus homens de confiança, Perpena, que contra ele urdira uma conspiração.
Coorden. do texto: marr


Algumas efeméride dos Lusitanos
Época de Viriato

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

LUSITANOS - ARMAMENTO



FALCATA
Espada curta, à maneira de foice, com fio ou corte, na parte interior.



ESPADA

A -espada romana
 B - espada lusitana

Começaram por ser de cobre forjado e depois de ferro, tinham dois gumes e ponta, com punho de metal e geralmente eram enriquecidas no pomo com figuras diversas. Algumas era feitas de uma só peça, de têmpera dura e corte afiado.

As espadas eram suspensas por meio de correias em forma de bandoleiras e as bainhas eram de couro ou de madeira












ADAGA
Tratava-se de uma espada mais pequena e que tinha por nome "machoera"




PUNHAL
Era uma espécie de faca "rhanda" com cerca de 20 centímetros de comprimento.


Nota:
         Tanto as espadas como os punhais foram adoptadas pelas tropas romanas em virtude da sua grande 
         qualidade




CLAVA
Ou "aclide" arma de madeira muito grossa na extremidade superior, com cravos ou pregos de ferro pontiagudos. Geralmente era suspensa pelo punho por uma correia grossa ou cadeia.

FUNDA
Instrumento de couro, tripa, crina, junco, esparto, etc., que tinha duas pontas de corda, com a qual se lançavam pedras e outros projécteis. Geralmente as pedras lançadas por estas armas, tinham diversas formas e dimensões fazendo-se o possível para serem aproximadamente iguais. Estas pedras eram transportadas numa bolsa de couro. Um bom fundibulário arremessava projécteis a uma distância bastante razoável e com muita eficiência, conseguia, com facilidade, derrubar o inimigo.
Texto e ilustrações de: marr






terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

LUSITANOS - VIRIATO


VIRIATO
Quadro do mestre Carlos Alberto Santos.
Por especial autorização para este blogue
Colecção particular

Guerreiro e Chefe Lusitano  que foi assassinado no ano de 140 antes de Cristo. A sua história de resistente e líder de um povo começou com uma saguinolenta traição dos romanos que iludindo os lusitanos, pela aparente boa fé do Cônsul Galbam depõem as armas com que tinham combatido os romanos e dispersam-se para diferentes locais. Mal começam a retirar pacificamente, o exército romano cai sobre eles e executam uma terrível mortandade, escapando poucos, mas entre esses que se salvaram ia Viriato.

À sua voz reúnem-se os lusitanos, jurando vingança. Viriato ainda não é o chefe, combatendo ombro a ombro com os seus, assim o Pretor Caio Vetilio com as suas tropas bem organizadas e disciplinadas, uma vez mais derrotam esses "pastores provocadores", que se vêem obrigados a refugiarem-se nas montanhas e nos locais mais recônditos.

Neste sentido, uma voz de revolta sobressai entre todas, é a de Viriato que incitando o seu povo à insurreição, à vingança dos seus mortos e à independência do jugo romano, consegue reanimar os seus  e eles confiam-lhe o comando (147 AC), foi este  novo chefe que empregou pela primeira vez o ardil, que sempre fora fatal à lógica de Roma e ao seu exército clássico.

Depois de uma série de emboscadas, Viriato à frente de um grupo de cavaleiros simula fazer frente ao inimigo, retirando-se seguidamente, teve este como intuito mostrar ao Pretor que estava vivo e que os lusitanos estavam dispostos a tudo e assim começou uma série de vitórias para Viriato e o seu povo, que segundo Pinheiro Chagas (...) junto a Tribola, Vetelio é derrotado. Cinco mil homens, que iam socorrer Tartesso, onde se haviam refugiado o resto das tropas romanas, tem igual sorte, sem um só poder escapar. Caio Plaucio é derrotado na batalha campal junto a Cora (...)
(...) Não é mais feliz Unimano do que os seus antecessores Caio Nigidio, que traz reforços consideráveis, é completamente destroçado junto a Viseu. Caio Lelio recupera uma passageira superioridade, que enche de alegria Roma. Fábio Emiliano vem com a missão de acabar de vez com a guerra, trazendo um reforço de quinze mil infantes e dois mil cavaleiros, que se reúnem ao exército de Lelio, às legiões romanas existentes em Espanha e aos seus aliados. Todo este imenso poder é destroçado, junto a Ossuna, pelo valente Chefe Lusitano (...)

(...) Fábio toma a desforra em Beja; mas Viriato é incansável; levanta tropas e derrota os romanos, encurralando-os nos seus quartéis em Córdova, e caminha em marcha triunfal até Granada e Múrcia! (...)

(...) Roma faz os últimos esforços e incumbe o General Serviliano de marchar contra os lusitanos. Duas vezes derrotado o Cônsul vê-se obrigado a assinar um tratado de paz em que Roma reconhece o poder de Viriato. Não rectificou a república, enviando outro general, Cipião, que recorrendo à astúcia, já que nada lucrava com a força, descobriu em dois embaixadores de Viriato dois traidores que acabariam por assassinar cobardemente o seu chefe (...)


ASSASSINATO DE VIRIATO
Quadro de Carlos Alberto Santos
Por especial autorização para este blogue
Colecção particular
Assim morreu Viriato, notável resistente e Chefe Lusitano que nunca se vergou, nem se deixou intimidar perante o poder de Roma e do seu invencível exército.
Texto coorden. por: marr

MORTE DE VIRIATO
Quadro de José de Madrazo
(Museu de Arte Moderna, Madrid)







domingo, 6 de fevereiro de 2011

LUSITANOS - ARMAS DEFENSIVAS

COETRA, PELTA ou PELTRA
Escudos redondos, côncavos exteriormente, com dois pés de diâmetro feitos de esparto. Eram suspensos ao pescoço por intermédio de correias, sem argolas nem asa para a mão.

ESCUDOS
De couro endurecido ao fogo, geralmente pintados com diversos motivos.
Observação:
No que diz respeito ao formato dos escudos uns dizem que eram redondos com dois pés de diâmetro (Estrabão), outros que tinham escudos compridos ao modo dos gauleses (Tito Livio). Nas estátuas encontradas no nosso País todas ostentavam escudos pequenos e redondos.


PROTECÇÕES PARA O PEITO
Confeccionadas em linho, muito espesso ou de malha de couro torcido, sendo alguns metálicos (o que era muito raro), por vezes utilizavam o perponto, feito de linho almofadado ou com entretela de lã, pespontado, que era utilizado para rebater as pontas das lanças, espadas ou qualquer outra arma aguda.


PROTECÇÕES PARA AS PERNAS
As "ocrêas" eram uma espécie de polainas ou caneleiras feitas em couro ou tecido.

COBERTURAS DE CABEÇA

CUDO ou GALEA
Casco simples de forma oval confeccionado em couro, preso ao queixo por uma correia tendo, de cada lado, recortes para deixar passar os cabelos soltos ou as tranças.
CASCOS
De cobre ou bronze, uns tinham um orifício no fundo, por onde podia sair o cabelo ou crinas; outros em bronze, com duas ou três cimeiras "à grega" ornados de crinas ou penas.
A estas coberturas de cabeça, geralmente eram adaptadas uma espécie de viseira em forma de máscara humana, chamada "bucula", que tinha como objectivo defender a face.

Texto e ilustrações de: marr

sábado, 5 de fevereiro de 2011

LUSITANOS - A TÁCTICA


Guerreiros Lusitanos
Quadro do mestre Carlos Alberto Santos
Por especial autorização para este blogue
Colecção particular




Por vezes ordenavam-se em corpos com cerca de 6 000 homens, combatendo em linha simétricas, colocadas de modo a servirem tanto para o ataque como para a defesa, protegendo-se mutuamente, aplicando a formatura em cunha, em que eram bastante exímios, embora a sua grande "especialidade" fosse a guerrilha, a emboscada e o ardil. Se tivermos em consideração o terreno onde eles progrediam que era extremamente arborizado e sem vias de comunicação, assim os Lusitanos, face aos romanos, tinham toda a vantagem de além de conhecerem o terreno, uma vez que as suas zonas de refúgio eram autênticos "esconderijos" da guerrilha, praticamente inacessíveis aos exércitos de ocupação, aliavam a tudo isto a ligeireza e flexibilidade face aos romanos, tanto no equipamento como no armamento dos seus guerreiros, dando-lhes assim uma rapidez de movimentos extremamente eficaz.


De nada servia o bem preparado e pesado equipamento e armamento do temível exército romano, temível sim mas, nas circunstâncias de uma guerra convencional para combater em campo aberto e não em estreitos caminhos, escarpadas montanhas, desfiladeiros intransponíveis e florestas extremamente densas.


A cavalaria Lusitana, regra geral, formava na retaguarda, entrando só em combate na ocasião em que os chefes achassem oportuno e actuavam sempre por entre os intervalos da infantaria; por vezes os cavaleiros combatiam desmontados, deixando  as montadas seguras nas árvores ou em estacas que eles transportavam presas nas extremidades das rédeas.
Quadro do mestre Carlos Alberto Santos
Por especial autorização para este blogue
Colecção particular
Quem melhor os soube descrever foi o geógrafo grego Estrabão na sua "Geografia da Ibéria", no Capítulo II, §3, N.º 6, relata-nos: (...) os Lusitanos são hábeis e ligeiros nas lutas de guerrilhas, em armar ciladas e em retirarem vantagens de situações desesperadas, fazendo as suas evoluções militares com muita ordem e destreza; tanto combatem a pé como a cavalo e estes últimos geralmente transportavam um peão na garupa do cavalo, sendo o animal treinado a subir as ásperas encostas das serras(...)

Monumento a Viriato em Viseu
(...) Entravam em combate soltando cânticos guerreiros, fazendo uma grande algazarra, gritando e abanando o cabelo para infundir terror, batendo com os pés no chão e as espadas nos escudos, numa bélica gritaria de ardor e entusiasmo (...)

Monumento a Viriato em Viseu
Era este o testemunho acerca deste povo aguerrido, que lutou tenazmente contra as legiões invasoras em prol da sua autonomia e independência, que era aquilo que os Lusitanos mais prezavam.
Texto de: marr

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

LUSITANOS - TRAJE

O sago era uma espécie de túnica ou gibão, com mangas curtas, comprido até aos joelhos e de diversas cores, geralmente no tom do material em que eram feitos, sendo preso por um cinturão de couro ou por tiras de pele entrançada. Era, o sago, confeccionado em lã grosseira e forte, pele de cabra ou linho, conforme a região de proveniência.

Alguns eram providos de capuz. Sobre este vestiam um manto que consistia num pedaço de fazenda (lã) ou pele de cabra cortada em semicírculo, ou em duas partes, unidas nos ombros por uma costura, podendo ser igualmente fixos por um colar ou fibula.

Engalanavam-se nos braços e pescoço com braceletes e aros de ouro, bronze, etc., assim como utilizavam alfinetes, pregadores, presilhas e toda a espécie de amuletos decorativos.
Lusitano
Original de mestre Carlos Alberto Santos
Por especial autorização para este blogue
Colecção particular

 Nalgumas tribos havia o hábito de fazerem tatuagens e pinturas no corpo.
Original do mestre Carlos Alberto Santos
Por especial autorização para este blogue
Colecção particular

Utilizavam, igualmente, peles curtidas  de urso ou lobo, com o respectivo crânio, o qual adaptavam à cabeça, deixando cair a pele pelas costas, outras vezes cingiam-nas ao corpo unindo-a, sob o peito, com as garras do animal.
Pormenor de uma gravura do século XIX
Colecção particular
Calçavam uma espécie de botins entretecidos de fibras de animais, crina, linho, esparto, pele de javali, etc..


Observações:
No que diz respeito às cores dos tecidos nunca se chegou a nenhuma conclusão, uns dizem que trajavam com cores vivas, outros que utilizavam vestes escuras, etc., efectivamente é bastante difícil conseguir um "género lusitano" na medida em que não havia uniformidade absolutamente nenhuma; os hábitos e tradições variavam de tribo para tribo, assim como também é necessário ter em conta o clima, o terreno e a variedade da "matéria prima" disponível nos diversos locais onde habitavam.

É igualmente necessário ter em conta a grande influência romana que o período de Sertório trouxe aos Lusitanos. Neste sentido poder-se-á afirmar que existiram três épocas distintas no que diz respeito ao armamento, traje, costumes, etc., que poderão ser assim divididas:

1.ª época: pré-Viriato que se poderá considerar a mais primitiva.

2.ª época: Viriato que é o período em apreciação.

3.ª época: Sertório ou seja a da romanização.

Texto  e uma ilustração de: marr

LUSITANOS (continuação)


Guerreiro Lusitano
Nós não sabemos como reagiram os Lusitanos quando pela primeira vez se encontraram perante outro povo que invadia os seus terrenos. Mas o país era grande e permitia lugares e comida para mais gente. Assim sucederam-se várias invasões de povos, vindo do sul, do norte e do oriente. O País absorveu todos e nele acabaram por se misturar, formando novos povos dos quais os LUSITANOS eram um entre outros. Historiadores há que até põem em causa a sua existência, lançando dúvidas sobre se alguma vez existiram, por falta de provas, Mas esta atitude é errada porque existem de facto provas suficientes que nos mostram que a antiga LUSITÂNIA ocupava grande parte do que é hoje Portugal, incluindo até à zona de Salamanca e Mérida, conforme foi dito. Esta última até chegou a ser a sua capital no período romano. Emérita Augusta, seu nome, era a cidade onde os velhos combatentes das legiões romanas recebiam casa e comida oferecida pelo Senado de Roma em agradecimento pelos bons serviços militares prestados durante uma longa vida a guerrear em todas as fronteiras do Império Romano. E disso eram merecedores.

Não sabemos os nomes dos mais antigos habitantes da LUSITÂNIA, mas sabemos que as invasões  dos Iberos, vindos no século XV AC, do Norte de África, hoje classificados por alguns historiadores como sendo provavelmente Hebreus, Ibero-Ebero-Hebreu, umas das perdidas tribos que saíram do Egipto em época de Moisés. Entraram na Península dando-lhe o nome de Ibéria.

Durante o primeiro milénio AC deram-se diversas invasões de povos nórdicos de origem Celta. Nomeadamente nos séculos X, VII, VI e V AC. A partir dessa época passou-se a classificar os povos da península como CELTIBÉRICOS a quem os LUSITANOS PERTENCIAM. Eles, por sua vez, sofreram as invasões romanas desde o século II AC e mais tarde as dos Alamanos, Suevos, Vândalos, Alanos e Visigodos nos séculos V, VI e VII DC.




LUSITANO
Segundo Bordalo Pinheiro

Os LUSITANOS misturaram-se com todos eles e quando se dá a entrada árabe na península no século VIII DC já não se pode falar de "Povo Lusitano", se quiser, mas sim na formação da cultura moçárabe que incluía cristão, judeus e muçulmanos que viviam harmoniosamente juntos nas cidades e separados por aldeias no resto do País.

Aquando D. Afonso Henriques conquistou o poder e lidera a formação de Portugal como nova Nação simplesmente expulsou a hierarquia dos califados árabes que se tinham apoderado da zona da antiga LUSITÂNIA. Encontrou o País parcialmente cristão com uma população resultante da mistura de todos os povos que aqui deixaram a sua marca.

Os invasores foram: Iberos, Celtas, Romanos, Suevos, Alanos, Vândalos, Visigodos e os Árabes, mas muitos outros, também cá estiveram, não como invasores, mas como parceiros comerciais, trocando mercadorias e introduzindo formas de escrita, língua, cultura e costumes, foram: Egípcios, Fenícios, Gregos, Etruscos e Ptolemaicos entre outros que entraram em contacto com a LUSITÂNIA e deixaram as suas influências.



Todos os povos da bacia do Mediterrâneo que construíram embarcações de "alto mar" mais cedo ou mais tarde encontraram, os seus caminhos até aos portos da LUSITÂNIA bem como os povos Nórdicos que passaram por aqui para poderem entrar no MARE NOSTRUM (nome dado pelos romanos ao Mediterrâneo, os povos nórdicos chamavam-lhe MAR DOS VÂNDALOS ).

Estátua de São Jorge de Vizela
A capacidade de sobreviver, de aceitar o que se considerava vantajoso e aceitável dos novos invasores, de se misturar com eles mantendo-se fiéis a si mesmos, rejeitando o que era considerado indesejável das influências de fora, RAPIDAMENTE SE TORNOU NUMA DAS CARACTERÍSTICAS LUSITANAS.
Texto coorden. por: marr


 

GUERREIRO  LUSITANO
desenho do mestre Carlos Alberto santos
Por especial autorização para este blogue
Colecção particular