sexta-feira, 22 de julho de 2011

A CONQUISTA DE SILVES POR D. SANCHO I EM 1189

O CERCO, O ASSALTO FINAL, A RENDIÇÃO
E  A
RETALIAÇÃO*


Colecção particular

Ao amanhecer do dia 21 de Julho de 1189, os portugueses e os seus aliados neste empreendimento, aproximaram-se com grandes escadas de assalto que atiravam contra as muralhas com os seus ganchos ameaçadores. Era preciso atravessar os fossos; alguns homens despiram as lorigas e atiraram-se à água, sob uma chuva de pedras, setas e objectos inflamáveis, aos quais os cristãos resistiram; depois de atravessados os fossos, revestiam-se novamente e lançavam contra os muros as suas escadas, alcançando o alto das muralhas, das quais os muçulmanos aterrados fugiam, recuando para detrás das outras muralhas mais fortes. Os cristãos tinham entrado no povoado, mas não no castelo...

Mais difícil foi a luta junto das outras muralhas; era extremamente difícil trepar as paredes que não mostravam o mínimo indício de uma pedra saliente na qual se pudessem sustentar para executarem uma subida por escalada. O sistemático arremesso das pedras lançadas pelas máquinas de guerra ou à mão, os caldeirões de pez e outras substâncias inflamáveis, as frechas, os tarasebetes, virotes que se chamavam ceámes, setas e lanças incendiárias, enfim toda a sorte de objectos servia, em desespero, para ser lançado contra os assaltantes, que não conseguiam levar a melhor.


Original do mestre Carlos Alberto Santos
Por autorização especial para este blogue
Colecção particular
Montaram-se torres de assalto, colocadas sobre rodas chegavam-se às muralhas, o "ouriço" e alguns aríetes batiam incessantemente nas muralhas, tentando-as derrubar; os trabucos, as balistas e os manganotes cuspiam todo o género de objectos, para dentro das muralhas, como pedras, barris de pez a arder, cadáveres de animais e até de inimigos mortos, em decomposição, (esta era uma prática muito comum, quer de um ou do outro lado, mas mais utilizado pelos que cercavam), afim de se tentar contaminar os sitiados com toda a espécie de doenças...Mas a resistência dos muçulmanos era tenaz e persistente, ao ponto de D. Sancho ter pensado em retirar-se. Optou-se então pelas minas. Neste sentido, os cristãos começaram a minar o terreno e em contrapartida os muçulmanos contra-minavam, por cada avanço de uns, por debaixo da terra a alguns metros de profundidade e à luz de archotes, quando estes se podiam acender, avançavam os outros. Os cristãos revezavam-se na medida em que só alguns é que cabiam naqueles túneis, além de se aguentarem pouco tempo naqueles buracos, onde se sufocava e dentro das minas batalhava-se cruelmente. Finalmente conseguiu-se o objectivo que foi o desmoronar de um pano da torre, que se esboroou e caiu. Por essa brecha se fez o assalto, a que os muçulmanos se opuseram com muita força, mas acabaram por ceder ao ímpeto dos invasores, tendo-se retirado precipitadamente para a "almedina" que era o derradeiro reduto, praticamente inexpugnável"

Entretanto, chegou o derradeiro dia 1 de Setembro de 1189 em que alguns muçulmanos de alta categoria quiseram saber quais as condições em que o rei de Portugal  aceitaria a rendição. Neste sentido propuseram deixar Silves em poder dos portugueses, se lhes consentissem sair com todos os seus bens e riquezas, em troca deixavam o castelo e a cidade.


Colecção particular
O rei achou bem o que eles propunham, contudo os cruzados opuseram-se a tal, porque se lhes tinha ajustado o saque da cidade, uma vez que eles não ficavam no nossos País, por isso queriam as suas contrapartidas. D. Sancho prometeu que então lhes pagaria em dinheiro o valor do saque, tendo-lhes oferecido vinte mil cruzados de ouro. Contudo esse dinheiro levaria tempo a chegar uma vez que se encontrava em Coimbra, os cruzados não aceitaram esperar e o rei prontificou-se a mandar vir a avultada soma de Évora, mas a resposta foi a mesma! O nosso monarca queria a toda a força salvar os muçulmanos das brutalidades dos cruzados, mas não havia maneira de os convencer do contrário, pretendiam o saque e não o dinheiro, conforme lhes fora prometido em Lisboa!

Os chefes dos cruzados já se encontravam com grandes dificuldades em conter os ímpetos dos seus que passaram a exigir, além do saque, que os muçulmanos saíssem da cidade nus, que eles depois lhes venderiam as roupas... D. Sancho, encolerizado, não aceitou tal imposição e assim sucedeu, os muçulmanos saíram da cidade vestidos e a 3 de Setembro de 1189 as portas de Silves abriram-se, de par em par, para deixarem a passagem livre aos vencedores. Os cruzados ocuparam a cidade desde o dia 4 até ao dia 6 ou 7; lançaram-se com uma tal fúria no saque e fizeram tanto mal, que o rei se indignou pele total falta de respeito pelos vencidos e que tanto tinham sofrido, que praticamente foram expulsos pela força das armas e eles, por sua vez, para se vingarem diziam que tinham sido os únicos vencedores, acusando igualmente D. Sancho de ser avarento, o que era totalmente falso, pois se o fosse não os deixariam sair com tantas riquezas, de modo que muitos destes cruzados já não foram combater para a Terra Santa, tendo antes regressado às suas terras para adquirirem bens.

D. Sancho entregou o governo de Silves ao Conde D. Mendo, o "Sousão"; investiu no cargo de bispo um cruzado estrangeiro, conforme o seu pai fizer em Lisboa. Mandou transformar a mesquita da cidade em catedral e no dia 13 de Setembro saía o rei à frente das suas tropas da cidade.

Ya'qub Al-Mansur, o Grande Califa
Colecção particular
Em Marrocos Ya'qub al-Mansur, rei dos Almohades, enraivecido pela derrota de Silves decidiu organizar uma grande expedição de castigo contra Portugal. Mandou que o governador de Sevilha preparasse uma força andaluza, tendo expedido ordens por todo o seu império para se fabricarem armas e reunirem-se víveres, tendo anunciado a "guerra santa" com carácter voluntário. Foi em número extraordinário os que se apresentaram; a energia e decisão com que se empreendeu a campanha foi de um enorme entusiasmo. A 23 de Janeiro de 1190, chegou a Rabat o monarca marroquino, onde ficou cerca de quarenta dias, com o intuito de concentrar as suas tropas e tentar animar os andaluzes com a expedição de diversas cartas que anunciavam a sua chegada muito para breve.
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Efectivamente, no dia 23 de Abril desembarcou em Tarifa e ali estacionou até à total travessia das suas tropas, tendo-se depois dirigido para Córdova, onde se encontrou com o seu primo Ya'qub b. Abi Hafs, que era o novo governador de Sevilha, tendo-lhe ordenado que organizasse outro exército, com os soldados que estavam sob o seu comando, mais os de Granada, os voluntários andaluzes e os contingentes agregados às cabilas (corpo de tropas) magrebinas de Sanhaya e Haskura, que deveriam marchar de imediato e directamente contra Silves para a sitiar. A 6 de Junho estavam a acampar em redor da cidade e a 5 de Julho chegou a esquadra Almohade que com este reforço e com a utilização de máquinas de guerra atacaram a praça, mas sem resultado.

O califa conhecia muito bem a importância das fortificações de Silves e a dificuldade que os portugueses e cruzados tiveram na sua tomada. Para evitar que D. Sancho acudisse com as suas hostes em socorro dos sitiados - não repetindo a tragédia que seu pai sofrera em Santarém - decidiu atacar ao mesmo tempo o centro de Portugal, impedindo o envio de reforços para Silves.
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A partir de Córdova ordenou a um seu outro primo, Sayyid Abu Zakariya b. Abi Hafs, que se formasse um terceiro corpo de exército, que entrou pelo Alentejo, chegando às portas de Évora, tendo arrasado tudo à sua passagem; foi reunir-se a Ya'qub, que tinha acampado nas margens do Tejo. Tinha o califa como objectivo, na campanha de 1190, assolar Portugal e alcançar a região de Coimbra. Contudo, adoeceu e como não melhorava começou a verificar-se no seu exército o cansaço e o desalento além da carestia, tendo então decidido regressar a Sevilha.

Colecção particular
A segunda campanha teve início a 28 de Abril de 1191. A 27 de Junho, Silves foi novamente sitiada, tendo sido retomada a 20 de Junho, Al-Mansur partiu de Silves no dia 23 do mesmo mês, tendo chegado a Sevilha a 28.  Contudo, antes da tomada de Silves, Al-Mansur, à frente de um forte exército, obtinha um grande êxito. O que hoje é território do Alentejo caiu todo em seu poder, excepto Évora. Recuperados Palmela, Almada e Alcácer-do-Sal, o Tejo retomou a sua função de fronteira natural de Portugal, ficando apenas Évora na nossa posse no "além-Tejo", qual ilha solitária e resistente no meio do oceano. Esta campanha durou três meses, tendo-se mais tarde assinado tréguas com os Almohades por cinco anos.

Silves só voltaria à posse de Portugal no ano de 1242, isto é, cinquenta e um anos depois, já no reinado de D. Sancho II.

Ilustrações e coordenação de uma forma livre a partir de diversos artigos, notas e apontamentos dispersos de: marr

Nota:
Este é o último trabalho sobre a Tomada de Silves por D. Sancho I em 1189

terça-feira, 19 de julho de 2011

A CONQUISTA DE SILVES POR D.SANCHO I EM 1189

MINAS

(...) Quiz El-Rey continuar nas minas (...) segundo nos narra o cruzado na obra sobre a tomada de Silves, traduzida por J. B. Silva Lopes (...) trabalhou-se de tal maneira naquella mina, e quando os nossos hião quasi chegando ao muro encontrárão-se com os mouros, que tambem o andavão furando, e travárão rija peleja. Por fim vierão quasi a fazer fugir os nossos, com huma grande torrente de fogo (...) no cabo de immenso trabalho foi tapado o buraco, e continuámos com a nossa mina- Elles porêm, não obstante, abrirão huma nova cava entre a nossa mina e o muro, e nos estorvárão de lhe chegar ao pé. Da parte de dentro fizerão outra cava à rez do muro, porque julgavão que nos propunhamos entrar o muro pela nossa, quando tinhamos tenção de lho deitar terra (...).

Torna-se extremamente interessante a construção de minas para se tentar derrubar parte da muralha ou alguma torre. Este género de trabalho obrigava a pessoal extremamente habilitado para o fazer e consistia no seguinte:


            A                          B                        B                         B             C         D                  
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Primeiramente cavava-se um poço com uma profundidade suficiente, conforme a sua finalidade (A), seguidamente, na horizontal abria-se um túnel que passasse por debaixo do fosso (B), que neste caso tinha água, e chegava-se por debaixo das fundações da muralha ou torre (C); à medida que se ia escavando, por debaixo das fundações, colocavam-se estacas para que a construção não viesse abaixo (D); depois de retirada a terra e a muralha estar toda sobre estacas, estas eram envoltas em substâncias inflamáveis (nafta, pez, etc.) e largava-se fogo, assim as estacas ardiam e a edificação perdia a sustentação e ruía. Entretanto, o ataque era executado à superfície:


Quadro do mestre Carlos Alberto Santos
por especial autorização para este blogue
Colecção particular


O êxito nem sempre era o esperado. No caso de Silves os muçulmanos detectaram os movimentos por debaixo da terra e fizeram contra-minas, o que resultou em combates no seu interior sob a luz dos archotes, por vezes eram introduzidos nos túneis grandes quantidades de matérias inflamáveis a que lançavam fogo, tornando os túneis num verdadeiro inferno!

Havia vários métodos para se poder saber se o inimigo estava a abrir minas: um era pelo ruído e para tal ia-se auscultando o chão e as paredes; outro, talvez o mais utilizado, era o de se colocarem no chão grandes tinas com água ao longo das muralhas, no chão das torres e outros lugares julgados convenientes, e à mínima vibração a superfície da água ondulava levemente e isso era sinal de alarme!


COMBATE NAS MINAS
(...) abriu-se logo uma nova mina mais perto dos muros (...) o rei com os seus gastadores e dirigindo, segundo parece, os trabalhos pessoalmente, fez progredir por tal modo a nova mina que em breve chegaram a curta distância dos fundamentos da muralha (...) contra minando de encontro os gastadores cristão, as duas estradas subterrâneas desembocaram uma na outra, e os sitiados, topando ai com os sitiadores, travaram combate. Devia ser horrível esse pelejar nas trevas ou à luz mortal dos fachos (...) tinham preparado materiais inflamáveis, e quando viram que não era possível fazer recuar os soldados do rei de Portugal, incendiando os combustíveis, soltaram ao encontro dos inimigos um rio de fogo (...) à custa de incríveis fadigas alcançaram obstruir a desembocadura da contra mina e continuar as escavações; mas os incasáveis sarracenos não tardaram a romper de novo por outra parte, de modo que ao trabalho incessante acrescia incessante pelejar (...)
Alexandre Herculano, in: História de Portugal, Livro III, pp.185 e 186.

Texto e ilustrações: marr


sábado, 16 de julho de 2011

A CONQUISTA DE SILVES POR D. SANCHO I EM 1189

MÁQUINAS DE GUERRA

(...) não tomavam folego hum só instante, ora preparando instrumentos para o assalto, ora acommettendo e sendo acommettidos com máquinas (...)


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 Como é do conhecimento geral, as máquinas de guerra, segundo alguns autores, já vêm do tempo dos Gregos embora tenham sido os Romanos quem mais as tenham utilizado.

Durante o cerco de Silves, estas máquinas eram comuns aos dois opositores não havendo praticamente nenhuma diferença; por isso, limitar-me-ei a apresentar alguns modelos que foram utilizadas por sitiantes e sitiados.


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(...) estavão assestadas da parte do norte quatro maquinas, huma nossa e tres dél-rei, e os mouros tambem contra ellas levantárão quatro (...)


TRABUCOS
(...) assentámos os arraiaes tão perto, que nelles vinham cahir as pedras atiradas dos muros com trabucos (...)

Esta terá sido uma das máquinas mais utilizadas no cerco de Silves;  já na tomada de Lisboa tinham sido empregues. Os contrários também as tinham dentro das muralhas e foram muito usados.

Utilizavam-se para arremessar pedras e outro tipo de projécteis incendiários. Funcionavam pelo sistema de contrapeso, sendo formado por um grande cavalete no qual girava sobre um eixo ou munhões horizontais; a um quarto do seu comprimento,, uma grande viga ou braço de madeira lastrada, na extremidade mais curta, por um grande peso. O braço ficava geralmente vertical, com o peso para baixo, mas quando se queria fazer funcionar era colocado horizontalmente, puxando-o cinquenta ou cem homens pela extremidade mais elevada, para baixo, até ser fixada num gatilho junto ao chão. O grande peso motor ficava portanto elevado no ar. Soltando-se o gatilho este peso descia com enorme violência atirando com o outro lado para cima e arremessando o projéctil colocado na funda, como se fosse um fundibulário gigante.

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Este engenhos podiam arremessar pedras de 100 ou 200 quilos de peso que derrubavam torres e muralhas, abrindo-lhes grandes brechas. Uma máquina destas teria um braço com cerca de 15 metros e um contrapeso de 9 toneladas, podendo o seu alcance ser de sensivelmente 300 metros para uma pedra de 130 quilos, tudo dependendo da dimensão do trabuco.

Por vezes eram arremessados cadáveres ( de combatente, cavalos e de outros animais) para dentro das cidades sitiadas a fim de provocar nelas a peste ou outras doenças contagiosas.

ESCADAS DE ASSALTO
(...) e nos preparamos de escadas para escalar os muros (...).

Esta eram de diversos modelos e tamanhos. Umas eram providas de ganchos numa das extremidades para se poderem engatar nas muralhas, outras tinham dois pés que as sustinham direitas sem cair e, finalmente, tínhamos as escadas normais e construídas conforme se podia.

TORRES DE ASSALTO
(...) por muitos dias nos démos a preparar maquinas, torres, escadas (...)



Colecção particular

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Também chamadas "torres móveis ou volantes", tratava-se de uma torre de madeira provida de rodas ou que se deslocavam ao rolarem sobre troncos lisos até chegarem às muralhas dos castelos. Tinham diversos andares, conforme a altura das muralhas. Algumas possuíam uma espécie de ponte levadiça que abria ao chegar os muros dos castelos ou no caso de não a possuírem lançavam-se tábuas para se poder dar o assalto.
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Estas torres, feitas de madeira, eram cobertas por peles verdes e molhadas ou por vegetação fresca, afim de se poder proteger a madeira dos objectos incendiários que eram lançados do alto das muralhas.

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ARÍETE
Instrumento para bater as muralhas ou portas das cidades. Na prática consistia numa grossa e pesada viga de ferro armada numa das extremidades com uma peça de ferro geralmente em forma de cabeça de carneiro ou com um bico.

Colecção particular
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Este podia transportar-se a braços ou sobre rodas. Os mais ligeiros eram percutidos à mão; os mais pesados eram suspensos e imprimia-se-lhe um movimento de pêndulo contra o local pretendido.


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OURIÇO
(...) nós os Teutónios, logo de madrugada, assestámos huma maquina, a que chamamos ouriço, contra o muro (...)

Sobres este "instrumento de bater" já muito se analisou sem se chegar a definir a sua forma (A cidade de Silves num Itinerário Naval do Século XII por um Cruzado Anónimo, doc.5, pp.112 e 116. Co-edição Távola Redonda e C. M. de Silves, 1999). Contudo, poder-se-á chegar à conclusão de que se tratava de um aríete, coberto e com rodas, possivelmente com a ponta ou pontas em bico, ficando, por isso, com o aspecto de um "ouriço";


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Uma vez que a extremidade com a "cabeça de carneiro" era utilizada para destruir portas ou muralhas mais frágeis e a ponta ou pontas de ferro para abrir brechas ou desmoronar muralhas.

(...) esta maquina era formada de grandes vigas cobertas com pranchões novos das náos. E sobre estes camadas de terra, argamassa, e bitume. Os mouros logo acodirão lançando-lhe em cima muita estopa, azeite, e fogo, com que queimárão a maquina, e tanto mais por ser ella de enorme pezo, e não se poder puxar facilmente para fora (...) no dia seguinte tornámos a trabalhar com a nossa maquina contra as mesmas torres, e com tanto empenho que conseguimos derrocar huma parte do muro (...)

OUTROS DIVERSOS ENGENHOS
(...) e muitos dias nos démos a preparar maquinas (...) e outros diversos engenhos para dar assalto à cidade (...)

Por este título não específico poderemos ter em consideração outro tipo de máquinas que eram muito utilizadas na situação em análise, assim temos:

MANGANOTE
Compunha-se, esta máquina, por uma haste (verga) de madeira rodando à volta de um eixo horizontal, na extremidade do braço menor tinha um contrapeso e na outra uma funda onde se colocavam projécteis a arremessar.

Regra geral lançava pedras esféricas, barris com nafta e outros materiais inflamáveis. Havia-os de diversos tamanhos, ou seja ligeiros:


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pesados:

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O sistema de engate da funda era do seguinte modo:


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O tiro era curvo, isto é, por elevação:


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BALISTA
Segundo Mayem e outros autores: " a balista lançava pedras exclusivamente já em uma só massa de oito a doze quintais, já em cestos à maneira da moderna metralha. Nos sítios,não só serviam para ferir, romper e transtornar, senão para introduzir nos castelos barris com mistos incendiários, com imundícies e até cadáveres para empestar ou infeccionar o ar".


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É natural que se tenham utilizado, dos dois lados, algumas destas máquinas. Neste caso havia-os de diversos modelos e tamanhos. Contudo aos poucos foi-se deixando de utilizar estes engenhos porque eram de fabricação muito difícil; assim preferiam o trabuco, que com algumas árvores se podiam construir e eram de maior efeito.


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Ilustrações e texto: marr

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A CONQUISTA DE SILVES POR D. SANCHO I EM 1189

ORGANIZAÇÃO

Colecção particular
A organização militar cristã no nosso País, no início da nossa fundação e em termos extremamente simples, era baseada no seguinte pressuposto: a prestação do serviço militar era o primeiro dos deveres do vassalo para com o seu rei; este, por sua vez, tinha por deveres: defender o vassalo quando ameaçado, não lhe tirar o feudo sem motivo justificado e administrar-lhe boa justiça.










Colecção particular
A organização militar dos muçulmanos estava muito desenvolvida constituindo a guerra para eles uma necessidade, um dever e uma religião. Segundo o profeta, três coisas garantiam ao muçulmano o paraíso: um bom golpe de espada, um bom acolhimento feito ao hóspede e a oração nas horas indicadas.

Efectivamente o Alcorão encontra-se repleto de incentivos para a guerra, de preceitos sobre as virtudes militares e humanitárias. Não só o Alcorão é um código religioso mas também civil, militar, criminal, etc. Também foram escritos imensos tratados sobre a arte da guerra.

Na época da tomada de Silves no ano de 1189, as organizações em confronto regiam-se sensivelmente do seguinte modo:

ORGANIZAÇÃO MILITAR DOS CRISTÃOS

Todos os homens livres estavam obrigados ao serviço militar, prestado sob determinadas regras. Este dever ia, geralmente, até aos sessenta anos de idade; contudo, as pessoas de mais idade não eram dispensadas de ter cavalo e armas, se os seus bens assim o permitissem.

No caso da conquista de Silves, as forças militares foram convocadas pelo próprio Rei  e por ele comandadas. Nestas situações a organização era a seguinte:

HOSTE OU PÉ DE EXÉRCITO
Força militar do País mandada convocar e comandada pelo próprio rei. Era constituída pelos contingentes que os senhores das terras, as ordens militares, os concelhos ou municípios deviam apresentar.

Estátua de D. Sancho I existente
na cidade da Guarda

COMANDANTE-EM-CHEFE
O Rei.

ALFERES-MOR
Recebia, transmitia e executava as ordens do soberano, velando pelo seu cumprimento.

MESNADA
Guerreiros que constituiam uma unidade orgânica, paga por um rico-homem ou senhor da igreja, que na ocasião da guerra tinha de fornecer contingentes à "hoste".

CONTIA
Era a remuneração que os nobres recebiam, não só pelo seu serviço individual, mas também por cada "lança" que eram obrigados a apresentar. O montante da "contia" dependia do número de "lanças" que os nobres tinham ou podiam colocar à disposição. A "contia" nem sempre era paga a dinheiro, mas em concessões de terras, certos direitos, etc.

CONTO
Os municípios, assim como os vassalos directos do rei, tinham que apresentar, obrigatória e anualmente, um certo número de homens de armas que eram colocados ao serviço do soberano.

PEONAGEM DO CONTO
Milícia própria que cada município tinha que apresentar. O número de homens prontos era determinada por foro.

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LANÇA
Compreendia o homem de armas, o seu escudeiro, o pajem, dois arqueiros a cavalo ou besteiros e um cutileiro.

BANDEIRA
Conjunto de cinco ou seis "lanças" sob o comando de um chefe.

COMPANHIA DE HOMENS DE ARMAS
União de um certo número (não era fixo) de "bandeiras"


CONSTITUIÇÃO DA INFANTARIA

- Homens de pé que acompanhavam os nobres e prelados.
- Peões fornecidos pelos concelhos, que constituíam a classe
  imediata aos cavaleiros-vilãos e que não dispunham de
  rendimentos para ter cavalo.
- Besteiros do conto, a pé.

CONSTITUIÇÃO DA CAVALARIA

- Fidalgos vassalos do rei.
- Lanças que os senhores das terras eram obrigados a fornecer
- Cavaleiros e escudeiros nobres
- Cavaleiros das ordens monástico-militares
- Cavaleiros dos concelhos
- Cavaleiros-vilãos
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ORGANIZAÇÃO DOS MUÇULMANOS


Colecção particular

Os quadros das tropas eram formados pelas pessoas de maior distinção, tanto entre muçulmanos como entre os que se colocavam ao seu serviço, acabando por ser "a causa comum", assim como os interesses que defendiam.

Finda a guerra - a não ser nas fronteiras onde se vivia com as armas nas mãos - as tropas voltavam às suas ocupações habituais, ficando no activo o núcleo de guerreiros pagos e a guarda de corpo do "Califa".

O cavalo foi sempre um objecto de maior cuidado e estimação entre os muçulmanos; o Alcorão qualifica esse animal como "o bem por excelência". Um muçulmano "ama o cavalo como uma parte do seu próprio coração e sacrifica, para o manter, até o alimento dos seus filhos".

Embora eles tivessem uma grande estima por esses animais, numerosa e forte nos seus exércitos era a infantaria.


CARGOS E FUNÇÕES

CALIFA
Suprema autoridade que de inicio dominou em todo o povo muçulmano. Este cargo, por algum tempo, foi exercido pelos discípulos e parentes de Maomé; até que houve "Emires" que, tornando-se independentes do poder central, adoptaram o título de "Califa".

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O "Grande Califa" era, por direito hereditário, o comandante de todos os exércitos, o generalíssimo por excelência. Mais tarde, quando houve muitos , os "Califas" passaram a ser os Chefes supremos das tropas das regiões onde imperavam.


Os "Califas" nomeavam, dentro dos homens da sua total confiança, os seus "Emires". 

EMIR
Esta palavra quer dizer "Chefe" ou "Senhor". Administrativamente era uma espécie de "Vice-Rei", título que se dava aos príncipes ou pessoas de grande distinção; como tal pertencia-lhe o governo e o mando das tropas da sua circunscrição, auxiliado por um ou mais oficiais, nomeados pelo "Califa".

O "Emir" deveria, antes de mais, ser um chefe exemplar, superintendendo a organização e definição das tropas a seu cargo, devendo passar-lhes revista todas as Sexta-Feiras ou pelo menos duas vezes por mês. Nesta ocasião dava-se baixa aos doentes, aos cavalos fracos e inutilizados e renovava-se o armamento.

EMIR-ALMANZIL
Espécie do que viria a ser o nosso futuro "Aposentador-Mor". Encarregava-se de indicar a cada "Cabila" (corpo de tropas) o local onde deveria estacionar.

EMIR AL-LABIAH
Encarregado de ordenar e dispor as tropas, segundo o que estabeleciam as instruções para a formação.

EMIR RAÍDE OU RAÍDE
Forregeador

VIZIR
Chamou-se primitivamente à autoridade imediata ao "Emir". Mais tarde o "vizirato" foi dividido por muitos funcionários ou ministros, para os diversos serviços como: contabilidade, correspondência, vigilância das fronteiras e povoações, etc., tendo cada um o título de "Vizir". Esta organização manteve-se até ao fim da presença muçulmana na Península Ibérica.

Este correspondiam-se com o "Califa" por intermédio do "Hajebe", que era uma espécie de camareiro.

VALI


Colecção particular
Governador da província. Como tal tinha o mando das tropas, tendo a categoria imediata à do "Emir", sob o ponto de vista administrativo. Eram colocados principalmente nas terras de fronteira e gozavam de grande autonomia.          Exercia  as seguintes funções: abastecimentos, aprestos para as campanhas, bagagens para as tropas, fortificação, recrutamento dos locais, etc. Acumulava ainda o serviço de fronteira que consistia em manter, alargar e entrara em operações sem necessidade de obter ordens do "Califa".

ALCAIDE
Dignidade superior militar, caudilho de uma grande unidade do exército ou governador de armas de uma cidade da província.
XORTA
Guarda da segurança e polícia de uma cidade

ZALMEDINA
Alto cargo político e jurídico

SAHEB AXORTA
Esta debaixo das ordens imediatas do chefe do exército "Senhor da Espada", julgava crimes e aplicava-lhes a devida pena; cargo de alta consideração e só se investiam nele os grande chefes militares. A sua autoridade não era extensível às classes mais altas.

ALVAZIL
Espécie de juiz fiscal da corte.

ARIDE
"Fiscal da fazenda" que estava encarregue de verificar o número de pessoas de que se compunha o exército, porque muitas vezes as relações continham um número superior ao efectivo real.

ORGANIZAÇÃO E HIERARQUIA MILITAR

EMIR
Chefe de cinco "Alcaides" ou seja cinco mil homens. Utilizava como distintivo um estandarte chamado "Raca", que só era desfraldado se a grandeza do exército que comandava assim o permitisse. Conforme a maior ou menor importância das expedições, assim eram os diversos cargos por ele designados.
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ALCAIDE
Comandante de cinco "Naquibes" ou seja mil homens. Transportavam um guião chamado "Alame".

DALIL
Chefe ou Guia, encarregado de comandar ou conduzir superiormente as tropas.

CHEFE DE TAÍFA
Categoria logo abaixo do "Vali". Tinha a seu cargo o comando de uma "Taífa", que era um grupo de oitocentos homens.

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CHEFE DE SERAI
Comandante de quatrocentos homens

NAQUIBE
Comandante de cinco "Arifes" ou seja duzentos homens. Como distintivo usavam uma signa chamada "Liva"

ARIFE
Comandava cinco "Nadires" ou seja quarenta homens. O seu distintivo era uma "Bande"

ALMOCADEM
Guia da vanguarda; era o comandante das tropas ligeiras ou "Almogavares". Geralmente encarregava-se, com os seus homens, de explorar e abrir itinerários para o avanço das tropas; realizava, igualmente, incursões em território inimigo.

NADIR
Espécie de "cabo" que comandava oito homens, sendo a sua insígnia a "Icda"

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ALMOGÁVAR
Guerreiro de infantaria

ALFERES
Entre os muçulmanos, queria simplesmente dizer "cavaleiro".

ALFAQUEQUE
Encarregado de resgatar cativos, escravos ou prisioneiros de guerra.



Texto e ilustrações: marr