quarta-feira, 3 de agosto de 2011

PEDRO FRANCISCO UM PORTUGUÊS HERÓI DA GUERRA DA INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

É praticamente desconhecido, no nosso País, que existiu um nosso antepassado que foi o mais valente e popular herói da Guerra da Independência dos Estados Unidos da América.




Corria o ano de 1760, quando uns marinheiros norte-americanos (há quem diga que eram piratas), que tinham vindo a Portugal (diz-se que foi em Porto Judeu, na Ilha Terceira nos Açores) e ao regressarem ao seu País, levaram para bordo um rapazinho que andaria ai pelos quatro a cinco anos de idade, que encontraram abandonado, ou perdido, na praia. Quando chegaram, à América do Norte, desembarcaram e abandonaram o pobre petiz na doca do porto de Richmond.

Os responsáveis portuários, encontraram-no a vaguear pelo cais de City Point, hoje bairro da cidade virginiana de Hopewell, que fica na confluência dos rios James e Appomattox, a poucos quilómetros de Williamsburg, que era naquela altura a capital da Virgínia. As autoridades ignoravam o que se passara, pois não entendiam as poucas palavras que ele dizia, um misto de português, francês e castelhano. Foi então internado no Asilo Prince George, destinado a crianças pobres e abandonadas existente em Richemond, tendo ali permanecido cerca de um ano, até que certo dia um magistrado engraçou com o rapaz, não se sabe bem porquê, e tirou-o dali. Acontece que o seu protector era nem mais, nem menos de que o juiz de direito Anthony Winston, Delegado do Condado de Buckingham, à Assembleia Revolucionária da Virgínia, que primeiro se reuniu em Richmond, e tio do famoso Patricy Henry, que também fazia parte da mesma Assembleia. O juiz teve piedade da criança e mandou-o seguir para a sua circunscrição do interior, onde uma criada negra o agasalhou.


Pedro Francisco
 Quando já começava a dominar o inglês, contou o garoto ao seu protector, o que se recordava do passado: que efectivamente se chamava Pedro Francisco; que a casa da família era grande e tinha por hábito brincar num jardim da casa com uma irmã; a sua mãe era bonita e falava francês; do pai só se lembrava que falava outra língua...

Mais tarde, o juiz levou-o para a sua herdade de Hunting Towers, ao lado de Alexandria, perto do rio Potomac, onde o jovem Pedro Francisco ficou integrado na casa e começou a trabalhar como ferreiro para o seu protector.

Quando a guerra rebentou, o jovem Pedro, com cerca de 15 anos, pediu licença para assentar praça no exército da independência, todo ele formado por voluntários, mas o juiz Winston não consentiu por causa da sua idade.


Marquês de Lafayette
 Foi só no ano seguinte, 1776, que o Pedro Francisco realizou o seu sonho e entrou para o 10.º Regimento das Tropas Continentais de Virgínia. Em 11 de Setembro o ano seguinte recebeu o seu baptismo de fogo nas margens do riacho chamado Brandywine, ao sul da Filadélfia, onde o General Washington debalde tentou impedir o avanço do exército inglês. Contudo as tropas americanas animadas pelo Marquês de Lafayette conseguiram com que a derrota não fosse esmagadora. Uma parte do exército do General Washington conseguiu salvar-se, permitindo aos americanos refazer as suas forças e entrar a seguir na luta.

Dois foram os homens que se distinguiram nesta batalha: o General Lafayette, pela sua incomparável coragem e a praça da Virgínia, Pedro Francisco. Ambos feridos, conheceram-se numa casa perto do campo de batalha, onde se foram tratar. Ali começou uma amizade que só, muito mais tarde, a morte interrompeu.


batalha de Camden
Apenas com 18 anos de idade já Pedro Francisco tinha 1,98metros e o peso de 118 quilos! Possuía uma força tal, que uma vez para não deixar cair nas mãos dos ingleses uma peça de artilharia de 480 quilos, nos campos de Camden, na Carolina do Sul, arrastou sozinho a peça utilizando como tirante uma corrente de ferro a tiracolo e disparando-a, quando chegou às linhas americanas, contra o inimigo.

Batalha de Camden

Salvou, com esta proeza, a vida do Coronel Mayo, seu comandante, que lhe ficou eternamente grato. Anos depois, em homenagem de reconhecimento, deu-lhe a sua espada de gala, a mesma que ainda hoje se conserva na Sociedade Histórica da Virgínia em Richemond.




Na Batalha de Guilford Courthouse, perto de Greensboro, na Carolina do Norte, Pedro Francisco, a 15 de Março de 1781, empunhando uma espada que lhe oferecera o General Washington, feriu de morte 11 soldados ingleses.

Na foto ao lado vê-se a espada que George Washington ofereceu a Pedro Francisco existente no Museu do Parque Nacional de Guilford Courthouse.










Batalha de Guilford Courthouse
No monumento que depois se mandou erigir no local, lê-se a seguinte inscrição: "A Peter Francisco; de estatura gigante, gigante na força e na coragem, que matou nesta contenda onze soldados do inimigo com a sua própria espada de folha larga, tornando-se talvez o mais famosos dos soldados rasos da Guerra da Independência".



 














 
Monumento a Pedro Francisco no Parque Nacional de Guilford Courthouse


General Nathanael Greene

Por usa vez, o General Nathanael Greene, do Exército Revolucionário do Sul, devido à conduta de Pedro na Batalha de Guilford Courthouse, mandou fazer em sua homenagem um belo estojo para navalha de barba com a seguinte legenda:" A Peter Francisco, de New Store, Condado de Buckingham, Virgínia. Homenagem ao seu valor moral e ânimo. Do seu camarada de armas Nathanael Greene". Este estojo ainda existe e encontra-se patente ao público no museu a cargo do Serviço dos Parques Nacionais em Guilford Courthouse. Os seus superiores quiseram ali mesmo promovê-lo a oficial, mas Pedro Francisco recusou tal honra, alegando, para se justificar, que não sabia ler nem escrever. George Washington afirmou que: " sem ele nós tínhamos perdido duas batalhas cruciais, talvez a guerra, e com ela a nossa liberdade. Pedro Francisco era considerado um homem exército".


Pedro Francisco

Com o fim da guerra, Pedro Francisco, voltou à sua terra, tendo casado em 1785 com Susan Anderson, fixando residência em Locust Grove, no Condado de Buckingham, numa propriedade rústica de 200 acres, que uma virginiana grata lhe oferecera. Ali exerceu o ofício de ferreiro, dedicando-se igualmente à lavoura. Enviuvou e tornou a casar.


Lafayette

No ano de 1824, por ocasião da visita do Marquês de Lafayette, este não quis deixar de se encontrar com o seu antigo companheiro de armas, o soldado raso luso-americano. Este acompanhou-o na visita triunfal através da Virgínia. Dois anos depois, o ilustre político da nova república, Henry Clay, também o visitou, atraído não só pela fama das sua proezas militares, mas igualmente pela tradição da sua força hercúlea.



Pedro Francisco em 1780 mudou-se para Richemond, onde desempenhou o cargo de "sargento-de-armas" na Câmara Estadual de Deputados.


Campa de Pedro Francisco

Faleceu no dia 16 de Janeiro de 1831 e a sua fama era tal que a assembleia cheia de mágoa pela perda irreparável deu-lhe as merecidas honras fúnebres no próprio Capitólio, que era o palácio do governo, e os restos mortais de Pedro Francisco ficaram sepultados no Cemitério Histórico de Richemond. Ali jazz, até hoje, numa campa que se distingue por se encontrar entre as dos homens notáveis da Guerra da Independência.







O tributo pago à memória de Pedro Francisco continua até aos nossos dias. Nos princípios do século passado, as Filhas da Revolução Americana, uma sociedade patriótica de descendentes dos homens que serviram a Guerra da Independência, mandaram plantar treze Árvores da Liberdade para simbolizar as antigas treze colónias inglesas da costa atlântica que deram origem aos Estados Unidos da América. Plantaram-nas no Parque Municipal de São Francisco da Califórnia, nas margens do Pacifico, tendo sido cada uma colocada na terra trazida do respectivo estado. A da árvore dedicada à velha e nobilíssima Virgínia veio da sepultura de Pedro Francisco.

Pedro Francisco atacar um cavaleiro inglês
Nos estados de Rhode Island e Massachussets, os seus governadores civis querendo assim testemunhar a importância das populações portuguesas da Nova Inglaterra, o primeiro desde 1954, o segundo desde 1955, todos os anos proclamam oficialmente o dia 15 de Março, aniversário da Batalha de Guilford Courthouse, DIA DE PEDRO FRANCISCO. Celebram-nos nas escolas e nas reuniões das câmaras e de outras entidades oficiais, tecendo os maiores elogios de quem tem o direito de ser recordado. Uma sociedade beneficente portuguesa com sede em Boston, a União Portuguesa Continental dos Estados Unidos da América, criou por sua vez o Prémio Pedro Francisco para distinguir os americanos que tenham honrado o nome português.
No dia 15 de Março, consagrado à memória de Pedro Francisco, é colocada uma coroa de flores em Peter Francisco Square em Rhode Island. A mesma cerimónia é realizada em mais cidades da Virgínia, de Massachussets, na Carolina do Norte e na do Sul.


 

Finalmente em 25 de Março de 1975, colocaram à venda em todas as agências americanas um selo comemorativo do herói português, agora denominado Lutador Extraordinário!

Pedro Francisco
Não resta dúvida alguma que o rapazinho português abandonado em 1765, num cais de uma vila ribeirinha da Virgínia, chegou a ser e é o soldado raso mais conhecido e festejado, sendo o único  verdadeiro herói popular da Revolução Americana. Assim, hoje, esse português é conhecido pelo Fabuloso Herói da Guerra da Independência dos Estados Unidos da América.


Coorden.:marr

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