sexta-feira, 22 de julho de 2011

A CONQUISTA DE SILVES POR D. SANCHO I EM 1189

O CERCO, O ASSALTO FINAL, A RENDIÇÃO
E  A
RETALIAÇÃO*


Colecção particular

Ao amanhecer do dia 21 de Julho de 1189, os portugueses e os seus aliados neste empreendimento, aproximaram-se com grandes escadas de assalto que atiravam contra as muralhas com os seus ganchos ameaçadores. Era preciso atravessar os fossos; alguns homens despiram as lorigas e atiraram-se à água, sob uma chuva de pedras, setas e objectos inflamáveis, aos quais os cristãos resistiram; depois de atravessados os fossos, revestiam-se novamente e lançavam contra os muros as suas escadas, alcançando o alto das muralhas, das quais os muçulmanos aterrados fugiam, recuando para detrás das outras muralhas mais fortes. Os cristãos tinham entrado no povoado, mas não no castelo...

Mais difícil foi a luta junto das outras muralhas; era extremamente difícil trepar as paredes que não mostravam o mínimo indício de uma pedra saliente na qual se pudessem sustentar para executarem uma subida por escalada. O sistemático arremesso das pedras lançadas pelas máquinas de guerra ou à mão, os caldeirões de pez e outras substâncias inflamáveis, as frechas, os tarasebetes, virotes que se chamavam ceámes, setas e lanças incendiárias, enfim toda a sorte de objectos servia, em desespero, para ser lançado contra os assaltantes, que não conseguiam levar a melhor.


Original do mestre Carlos Alberto Santos
Por autorização especial para este blogue
Colecção particular
Montaram-se torres de assalto, colocadas sobre rodas chegavam-se às muralhas, o "ouriço" e alguns aríetes batiam incessantemente nas muralhas, tentando-as derrubar; os trabucos, as balistas e os manganotes cuspiam todo o género de objectos, para dentro das muralhas, como pedras, barris de pez a arder, cadáveres de animais e até de inimigos mortos, em decomposição, (esta era uma prática muito comum, quer de um ou do outro lado, mas mais utilizado pelos que cercavam), afim de se tentar contaminar os sitiados com toda a espécie de doenças...Mas a resistência dos muçulmanos era tenaz e persistente, ao ponto de D. Sancho ter pensado em retirar-se. Optou-se então pelas minas. Neste sentido, os cristãos começaram a minar o terreno e em contrapartida os muçulmanos contra-minavam, por cada avanço de uns, por debaixo da terra a alguns metros de profundidade e à luz de archotes, quando estes se podiam acender, avançavam os outros. Os cristãos revezavam-se na medida em que só alguns é que cabiam naqueles túneis, além de se aguentarem pouco tempo naqueles buracos, onde se sufocava e dentro das minas batalhava-se cruelmente. Finalmente conseguiu-se o objectivo que foi o desmoronar de um pano da torre, que se esboroou e caiu. Por essa brecha se fez o assalto, a que os muçulmanos se opuseram com muita força, mas acabaram por ceder ao ímpeto dos invasores, tendo-se retirado precipitadamente para a "almedina" que era o derradeiro reduto, praticamente inexpugnável"

Entretanto, chegou o derradeiro dia 1 de Setembro de 1189 em que alguns muçulmanos de alta categoria quiseram saber quais as condições em que o rei de Portugal  aceitaria a rendição. Neste sentido propuseram deixar Silves em poder dos portugueses, se lhes consentissem sair com todos os seus bens e riquezas, em troca deixavam o castelo e a cidade.


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O rei achou bem o que eles propunham, contudo os cruzados opuseram-se a tal, porque se lhes tinha ajustado o saque da cidade, uma vez que eles não ficavam no nossos País, por isso queriam as suas contrapartidas. D. Sancho prometeu que então lhes pagaria em dinheiro o valor do saque, tendo-lhes oferecido vinte mil cruzados de ouro. Contudo esse dinheiro levaria tempo a chegar uma vez que se encontrava em Coimbra, os cruzados não aceitaram esperar e o rei prontificou-se a mandar vir a avultada soma de Évora, mas a resposta foi a mesma! O nosso monarca queria a toda a força salvar os muçulmanos das brutalidades dos cruzados, mas não havia maneira de os convencer do contrário, pretendiam o saque e não o dinheiro, conforme lhes fora prometido em Lisboa!

Os chefes dos cruzados já se encontravam com grandes dificuldades em conter os ímpetos dos seus que passaram a exigir, além do saque, que os muçulmanos saíssem da cidade nus, que eles depois lhes venderiam as roupas... D. Sancho, encolerizado, não aceitou tal imposição e assim sucedeu, os muçulmanos saíram da cidade vestidos e a 3 de Setembro de 1189 as portas de Silves abriram-se, de par em par, para deixarem a passagem livre aos vencedores. Os cruzados ocuparam a cidade desde o dia 4 até ao dia 6 ou 7; lançaram-se com uma tal fúria no saque e fizeram tanto mal, que o rei se indignou pele total falta de respeito pelos vencidos e que tanto tinham sofrido, que praticamente foram expulsos pela força das armas e eles, por sua vez, para se vingarem diziam que tinham sido os únicos vencedores, acusando igualmente D. Sancho de ser avarento, o que era totalmente falso, pois se o fosse não os deixariam sair com tantas riquezas, de modo que muitos destes cruzados já não foram combater para a Terra Santa, tendo antes regressado às suas terras para adquirirem bens.

D. Sancho entregou o governo de Silves ao Conde D. Mendo, o "Sousão"; investiu no cargo de bispo um cruzado estrangeiro, conforme o seu pai fizer em Lisboa. Mandou transformar a mesquita da cidade em catedral e no dia 13 de Setembro saía o rei à frente das suas tropas da cidade.

Ya'qub Al-Mansur, o Grande Califa
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Em Marrocos Ya'qub al-Mansur, rei dos Almohades, enraivecido pela derrota de Silves decidiu organizar uma grande expedição de castigo contra Portugal. Mandou que o governador de Sevilha preparasse uma força andaluza, tendo expedido ordens por todo o seu império para se fabricarem armas e reunirem-se víveres, tendo anunciado a "guerra santa" com carácter voluntário. Foi em número extraordinário os que se apresentaram; a energia e decisão com que se empreendeu a campanha foi de um enorme entusiasmo. A 23 de Janeiro de 1190, chegou a Rabat o monarca marroquino, onde ficou cerca de quarenta dias, com o intuito de concentrar as suas tropas e tentar animar os andaluzes com a expedição de diversas cartas que anunciavam a sua chegada muito para breve.
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Efectivamente, no dia 23 de Abril desembarcou em Tarifa e ali estacionou até à total travessia das suas tropas, tendo-se depois dirigido para Córdova, onde se encontrou com o seu primo Ya'qub b. Abi Hafs, que era o novo governador de Sevilha, tendo-lhe ordenado que organizasse outro exército, com os soldados que estavam sob o seu comando, mais os de Granada, os voluntários andaluzes e os contingentes agregados às cabilas (corpo de tropas) magrebinas de Sanhaya e Haskura, que deveriam marchar de imediato e directamente contra Silves para a sitiar. A 6 de Junho estavam a acampar em redor da cidade e a 5 de Julho chegou a esquadra Almohade que com este reforço e com a utilização de máquinas de guerra atacaram a praça, mas sem resultado.

O califa conhecia muito bem a importância das fortificações de Silves e a dificuldade que os portugueses e cruzados tiveram na sua tomada. Para evitar que D. Sancho acudisse com as suas hostes em socorro dos sitiados - não repetindo a tragédia que seu pai sofrera em Santarém - decidiu atacar ao mesmo tempo o centro de Portugal, impedindo o envio de reforços para Silves.
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A partir de Córdova ordenou a um seu outro primo, Sayyid Abu Zakariya b. Abi Hafs, que se formasse um terceiro corpo de exército, que entrou pelo Alentejo, chegando às portas de Évora, tendo arrasado tudo à sua passagem; foi reunir-se a Ya'qub, que tinha acampado nas margens do Tejo. Tinha o califa como objectivo, na campanha de 1190, assolar Portugal e alcançar a região de Coimbra. Contudo, adoeceu e como não melhorava começou a verificar-se no seu exército o cansaço e o desalento além da carestia, tendo então decidido regressar a Sevilha.

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A segunda campanha teve início a 28 de Abril de 1191. A 27 de Junho, Silves foi novamente sitiada, tendo sido retomada a 20 de Junho, Al-Mansur partiu de Silves no dia 23 do mesmo mês, tendo chegado a Sevilha a 28.  Contudo, antes da tomada de Silves, Al-Mansur, à frente de um forte exército, obtinha um grande êxito. O que hoje é território do Alentejo caiu todo em seu poder, excepto Évora. Recuperados Palmela, Almada e Alcácer-do-Sal, o Tejo retomou a sua função de fronteira natural de Portugal, ficando apenas Évora na nossa posse no "além-Tejo", qual ilha solitária e resistente no meio do oceano. Esta campanha durou três meses, tendo-se mais tarde assinado tréguas com os Almohades por cinco anos.

Silves só voltaria à posse de Portugal no ano de 1242, isto é, cinquenta e um anos depois, já no reinado de D. Sancho II.

Ilustrações e coordenação de uma forma livre a partir de diversos artigos, notas e apontamentos dispersos de: marr

Nota:
Este é o último trabalho sobre a Tomada de Silves por D. Sancho I em 1189

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