segunda-feira, 4 de julho de 2011

A CONQUISTA DE SILVES POR D. SANCHO I EM 1189

ORGANIZAÇÃO

Colecção particular
A organização militar cristã no nosso País, no início da nossa fundação e em termos extremamente simples, era baseada no seguinte pressuposto: a prestação do serviço militar era o primeiro dos deveres do vassalo para com o seu rei; este, por sua vez, tinha por deveres: defender o vassalo quando ameaçado, não lhe tirar o feudo sem motivo justificado e administrar-lhe boa justiça.










Colecção particular
A organização militar dos muçulmanos estava muito desenvolvida constituindo a guerra para eles uma necessidade, um dever e uma religião. Segundo o profeta, três coisas garantiam ao muçulmano o paraíso: um bom golpe de espada, um bom acolhimento feito ao hóspede e a oração nas horas indicadas.

Efectivamente o Alcorão encontra-se repleto de incentivos para a guerra, de preceitos sobre as virtudes militares e humanitárias. Não só o Alcorão é um código religioso mas também civil, militar, criminal, etc. Também foram escritos imensos tratados sobre a arte da guerra.

Na época da tomada de Silves no ano de 1189, as organizações em confronto regiam-se sensivelmente do seguinte modo:

ORGANIZAÇÃO MILITAR DOS CRISTÃOS

Todos os homens livres estavam obrigados ao serviço militar, prestado sob determinadas regras. Este dever ia, geralmente, até aos sessenta anos de idade; contudo, as pessoas de mais idade não eram dispensadas de ter cavalo e armas, se os seus bens assim o permitissem.

No caso da conquista de Silves, as forças militares foram convocadas pelo próprio Rei  e por ele comandadas. Nestas situações a organização era a seguinte:

HOSTE OU PÉ DE EXÉRCITO
Força militar do País mandada convocar e comandada pelo próprio rei. Era constituída pelos contingentes que os senhores das terras, as ordens militares, os concelhos ou municípios deviam apresentar.

Estátua de D. Sancho I existente
na cidade da Guarda

COMANDANTE-EM-CHEFE
O Rei.

ALFERES-MOR
Recebia, transmitia e executava as ordens do soberano, velando pelo seu cumprimento.

MESNADA
Guerreiros que constituiam uma unidade orgânica, paga por um rico-homem ou senhor da igreja, que na ocasião da guerra tinha de fornecer contingentes à "hoste".

CONTIA
Era a remuneração que os nobres recebiam, não só pelo seu serviço individual, mas também por cada "lança" que eram obrigados a apresentar. O montante da "contia" dependia do número de "lanças" que os nobres tinham ou podiam colocar à disposição. A "contia" nem sempre era paga a dinheiro, mas em concessões de terras, certos direitos, etc.

CONTO
Os municípios, assim como os vassalos directos do rei, tinham que apresentar, obrigatória e anualmente, um certo número de homens de armas que eram colocados ao serviço do soberano.

PEONAGEM DO CONTO
Milícia própria que cada município tinha que apresentar. O número de homens prontos era determinada por foro.

Colecção particular
LANÇA
Compreendia o homem de armas, o seu escudeiro, o pajem, dois arqueiros a cavalo ou besteiros e um cutileiro.

BANDEIRA
Conjunto de cinco ou seis "lanças" sob o comando de um chefe.

COMPANHIA DE HOMENS DE ARMAS
União de um certo número (não era fixo) de "bandeiras"


CONSTITUIÇÃO DA INFANTARIA

- Homens de pé que acompanhavam os nobres e prelados.
- Peões fornecidos pelos concelhos, que constituíam a classe
  imediata aos cavaleiros-vilãos e que não dispunham de
  rendimentos para ter cavalo.
- Besteiros do conto, a pé.

CONSTITUIÇÃO DA CAVALARIA

- Fidalgos vassalos do rei.
- Lanças que os senhores das terras eram obrigados a fornecer
- Cavaleiros e escudeiros nobres
- Cavaleiros das ordens monástico-militares
- Cavaleiros dos concelhos
- Cavaleiros-vilãos
Colecção particular


ORGANIZAÇÃO DOS MUÇULMANOS


Colecção particular

Os quadros das tropas eram formados pelas pessoas de maior distinção, tanto entre muçulmanos como entre os que se colocavam ao seu serviço, acabando por ser "a causa comum", assim como os interesses que defendiam.

Finda a guerra - a não ser nas fronteiras onde se vivia com as armas nas mãos - as tropas voltavam às suas ocupações habituais, ficando no activo o núcleo de guerreiros pagos e a guarda de corpo do "Califa".

O cavalo foi sempre um objecto de maior cuidado e estimação entre os muçulmanos; o Alcorão qualifica esse animal como "o bem por excelência". Um muçulmano "ama o cavalo como uma parte do seu próprio coração e sacrifica, para o manter, até o alimento dos seus filhos".

Embora eles tivessem uma grande estima por esses animais, numerosa e forte nos seus exércitos era a infantaria.


CARGOS E FUNÇÕES

CALIFA
Suprema autoridade que de inicio dominou em todo o povo muçulmano. Este cargo, por algum tempo, foi exercido pelos discípulos e parentes de Maomé; até que houve "Emires" que, tornando-se independentes do poder central, adoptaram o título de "Califa".

Colecção particular


O "Grande Califa" era, por direito hereditário, o comandante de todos os exércitos, o generalíssimo por excelência. Mais tarde, quando houve muitos , os "Califas" passaram a ser os Chefes supremos das tropas das regiões onde imperavam.


Os "Califas" nomeavam, dentro dos homens da sua total confiança, os seus "Emires". 

EMIR
Esta palavra quer dizer "Chefe" ou "Senhor". Administrativamente era uma espécie de "Vice-Rei", título que se dava aos príncipes ou pessoas de grande distinção; como tal pertencia-lhe o governo e o mando das tropas da sua circunscrição, auxiliado por um ou mais oficiais, nomeados pelo "Califa".

O "Emir" deveria, antes de mais, ser um chefe exemplar, superintendendo a organização e definição das tropas a seu cargo, devendo passar-lhes revista todas as Sexta-Feiras ou pelo menos duas vezes por mês. Nesta ocasião dava-se baixa aos doentes, aos cavalos fracos e inutilizados e renovava-se o armamento.

EMIR-ALMANZIL
Espécie do que viria a ser o nosso futuro "Aposentador-Mor". Encarregava-se de indicar a cada "Cabila" (corpo de tropas) o local onde deveria estacionar.

EMIR AL-LABIAH
Encarregado de ordenar e dispor as tropas, segundo o que estabeleciam as instruções para a formação.

EMIR RAÍDE OU RAÍDE
Forregeador

VIZIR
Chamou-se primitivamente à autoridade imediata ao "Emir". Mais tarde o "vizirato" foi dividido por muitos funcionários ou ministros, para os diversos serviços como: contabilidade, correspondência, vigilância das fronteiras e povoações, etc., tendo cada um o título de "Vizir". Esta organização manteve-se até ao fim da presença muçulmana na Península Ibérica.

Este correspondiam-se com o "Califa" por intermédio do "Hajebe", que era uma espécie de camareiro.

VALI


Colecção particular
Governador da província. Como tal tinha o mando das tropas, tendo a categoria imediata à do "Emir", sob o ponto de vista administrativo. Eram colocados principalmente nas terras de fronteira e gozavam de grande autonomia.          Exercia  as seguintes funções: abastecimentos, aprestos para as campanhas, bagagens para as tropas, fortificação, recrutamento dos locais, etc. Acumulava ainda o serviço de fronteira que consistia em manter, alargar e entrara em operações sem necessidade de obter ordens do "Califa".

ALCAIDE
Dignidade superior militar, caudilho de uma grande unidade do exército ou governador de armas de uma cidade da província.
XORTA
Guarda da segurança e polícia de uma cidade

ZALMEDINA
Alto cargo político e jurídico

SAHEB AXORTA
Esta debaixo das ordens imediatas do chefe do exército "Senhor da Espada", julgava crimes e aplicava-lhes a devida pena; cargo de alta consideração e só se investiam nele os grande chefes militares. A sua autoridade não era extensível às classes mais altas.

ALVAZIL
Espécie de juiz fiscal da corte.

ARIDE
"Fiscal da fazenda" que estava encarregue de verificar o número de pessoas de que se compunha o exército, porque muitas vezes as relações continham um número superior ao efectivo real.

ORGANIZAÇÃO E HIERARQUIA MILITAR

EMIR
Chefe de cinco "Alcaides" ou seja cinco mil homens. Utilizava como distintivo um estandarte chamado "Raca", que só era desfraldado se a grandeza do exército que comandava assim o permitisse. Conforme a maior ou menor importância das expedições, assim eram os diversos cargos por ele designados.
Colecção particular

ALCAIDE
Comandante de cinco "Naquibes" ou seja mil homens. Transportavam um guião chamado "Alame".

DALIL
Chefe ou Guia, encarregado de comandar ou conduzir superiormente as tropas.

CHEFE DE TAÍFA
Categoria logo abaixo do "Vali". Tinha a seu cargo o comando de uma "Taífa", que era um grupo de oitocentos homens.

Colecção particular

CHEFE DE SERAI
Comandante de quatrocentos homens

NAQUIBE
Comandante de cinco "Arifes" ou seja duzentos homens. Como distintivo usavam uma signa chamada "Liva"

ARIFE
Comandava cinco "Nadires" ou seja quarenta homens. O seu distintivo era uma "Bande"

ALMOCADEM
Guia da vanguarda; era o comandante das tropas ligeiras ou "Almogavares". Geralmente encarregava-se, com os seus homens, de explorar e abrir itinerários para o avanço das tropas; realizava, igualmente, incursões em território inimigo.

NADIR
Espécie de "cabo" que comandava oito homens, sendo a sua insígnia a "Icda"

Colecção particular

ALMOGÁVAR
Guerreiro de infantaria

ALFERES
Entre os muçulmanos, queria simplesmente dizer "cavaleiro".

ALFAQUEQUE
Encarregado de resgatar cativos, escravos ou prisioneiros de guerra.



Texto e ilustrações: marr

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