MINAS
(...) Quiz El-Rey continuar nas minas (...) segundo nos narra o cruzado na obra sobre a tomada de Silves, traduzida por J. B. Silva Lopes (...) trabalhou-se de tal maneira naquella mina, e quando os nossos hião quasi chegando ao muro encontrárão-se com os mouros, que tambem o andavão furando, e travárão rija peleja. Por fim vierão quasi a fazer fugir os nossos, com huma grande torrente de fogo (...) no cabo de immenso trabalho foi tapado o buraco, e continuámos com a nossa mina- Elles porêm, não obstante, abrirão huma nova cava entre a nossa mina e o muro, e nos estorvárão de lhe chegar ao pé. Da parte de dentro fizerão outra cava à rez do muro, porque julgavão que nos propunhamos entrar o muro pela nossa, quando tinhamos tenção de lho deitar terra (...).
Torna-se extremamente interessante a construção de minas para se tentar derrubar parte da muralha ou alguma torre. Este género de trabalho obrigava a pessoal extremamente habilitado para o fazer e consistia no seguinte:
A B B B C D Colecção particular |
Primeiramente cavava-se um poço com uma profundidade suficiente, conforme a sua finalidade (A), seguidamente, na horizontal abria-se um túnel que passasse por debaixo do fosso (B), que neste caso tinha água, e chegava-se por debaixo das fundações da muralha ou torre (C); à medida que se ia escavando, por debaixo das fundações, colocavam-se estacas para que a construção não viesse abaixo (D); depois de retirada a terra e a muralha estar toda sobre estacas, estas eram envoltas em substâncias inflamáveis (nafta, pez, etc.) e largava-se fogo, assim as estacas ardiam e a edificação perdia a sustentação e ruía. Entretanto, o ataque era executado à superfície:
Quadro do mestre Carlos Alberto Santos por especial autorização para este blogue Colecção particular |
O êxito nem sempre era o esperado. No caso de Silves os muçulmanos detectaram os movimentos por debaixo da terra e fizeram contra-minas, o que resultou em combates no seu interior sob a luz dos archotes, por vezes eram introduzidos nos túneis grandes quantidades de matérias inflamáveis a que lançavam fogo, tornando os túneis num verdadeiro inferno!
Havia vários métodos para se poder saber se o inimigo estava a abrir minas: um era pelo ruído e para tal ia-se auscultando o chão e as paredes; outro, talvez o mais utilizado, era o de se colocarem no chão grandes tinas com água ao longo das muralhas, no chão das torres e outros lugares julgados convenientes, e à mínima vibração a superfície da água ondulava levemente e isso era sinal de alarme!
COMBATE NAS MINAS
(...) abriu-se logo uma nova mina mais perto dos muros (...) o rei com os seus gastadores e dirigindo, segundo parece, os trabalhos pessoalmente, fez progredir por tal modo a nova mina que em breve chegaram a curta distância dos fundamentos da muralha (...) contra minando de encontro os gastadores cristão, as duas estradas subterrâneas desembocaram uma na outra, e os sitiados, topando ai com os sitiadores, travaram combate. Devia ser horrível esse pelejar nas trevas ou à luz mortal dos fachos (...) tinham preparado materiais inflamáveis, e quando viram que não era possível fazer recuar os soldados do rei de Portugal, incendiando os combustíveis, soltaram ao encontro dos inimigos um rio de fogo (...) à custa de incríveis fadigas alcançaram obstruir a desembocadura da contra mina e continuar as escavações; mas os incasáveis sarracenos não tardaram a romper de novo por outra parte, de modo que ao trabalho incessante acrescia incessante pelejar (...)
Alexandre Herculano, in: História de Portugal, Livro III, pp.185 e 186.
Texto e ilustrações: marr
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