quinta-feira, 28 de abril de 2011

A CONQUISTA DE SILVES POR D. SANCHO I, EM 1189

PREÂMBULO

O segundo Rei de Portugal, D. Sancho I - filho do matrimónio de D. Afonso Henriques com D. Mafalda e neto, por parte da mãe, de Amadeu III, Conde de Mauriana e Sabóia - nasceu em Coimbra, no dia 11 de Novembro de 1154


Foi aclamado Rei de Portugal três dias depois da morte de seu pai, aos 31 anos de idade, já sendo casado, fazia dez anos, com D. Dulce, filha de D. Ramon Berenguer XV, Conde de Barcelona e Príncipe de Aragão.

O reinado deste monarca foi dedicado principalmente ao povoamento e à administração das terras conquistadas por seu pai; já Oliveira Martins afirma na sua História de Portugal: (...) consolidam-se as conquistas, povoam-se e fortificam-se as vilas, começa a esboçar-se a administração, (...) Há um pensamento na política e uma ideia nas campanhas. Sancho I, é já um rei (...)
Castelo de Silves na actualidade
 Colecção particular
Efectivamente, D. Sancho I, "O Povoador", tinha como objectivo a total conquista do distrito de Chenchir ou Al-Faghar, assim denominavam os árabes o Algarve, mas ao tomar Silves nunca poderia considerar aquele território como pertença da coroa, uma vez que Faro continuava na posse dos muçulmanos.

Em 1191, Silves caiu novamente na posse dos muçulmanos. Estava vingada a tomada dessa cidade, pelos portugueses, em 1189; a vingança foi de tal modo violenta que chegou até às muralhas de Tomar... tendo Portugal recuado as suas fronteiras até aos antigos limites do Tejo.

Neste sentido, o monarca português enfraquecido militarmente e totalmente frustrado pelo auxilio dos Cruzados, que apenas tinham como objectivo o saque, passou a dedicar-se à povoação e administração dos seus territórios, numa importante obra de organização e consolidação nacional.

Teve este Rei, onze filhos legítimos que a título de curiosidade se indicam:
D. Sancho I
Colecção particular
D. Constança, D. Henrique e D. Raimundo que morreram crianças; D. Teresa que casou com D. Afonso IX, Rei de Leão, que depois de anulado o matrimónio pelo Papa, retirou-se para o convento de Lorvão; Infante D. Afonso, que sucedeu seu pai no reino; Infante D. Pedro que passou para o reino de Marrocos, casou com a Condessa de Urgel; Infante D. Fernando, que foi Conde de Flandres, por sua mulher, Condessa D. Joana, filha de Balduino, Imperador de Constantinopla; Infanta D. Mafalda, que casou com Henrique, rei de Castela; Infanta D. Branca, Senhora de Guadalaxara e a Infanta D. Berenguela, que foi mulher de Valdemaro II, rei da Dinamarca, cognominado o Vitorioso, que ao acompanhar o seu marido numa batalha morreu vitima de uma seta.

Quando ainda era solteiro teve, de Maria Paes Ribeira os seguintes filhos: Martim Sanches, Conde de Trastamara; D. Urraca Sanches que casou com Lourenço Soares; D. Teresa Sanches, mulher de D. Afonso Tello, dos quais descende a casa de Marialva; Gil Sanches que seguiu a vida eclesiástica; Constança Sanches, fundadora do Convento de S. Francisco de Coimbra e Rui Sanches, que morreu em combate junto ao Porto.

Depois da morte da Rainha D. Dulce, teve o soberano mais dois filhos de D. Maria Annes de Fornellos, a saber: D. Martinho de Portugal e D. Urraca de Portugal.



D. Dulce.
Colecção particular
Faleceu D. Sancho em Coimbra no dia 26 de Março de 1211, com 57 anos de idade e 26 de reinado. Encontra-se sepultado com a sua mulher, que faleceu no dia 1 de Setembro de 1198, no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

O presente trabalho não é dedicado ao reinado de D. Sancho I, mas sim a um episódio do seu governo que foi a tomada de Silves aos muçulmanos em 1189. Este acontecimento, embora narrado praticamente em todas as histórias de Portugal, é extremamente interessante por se tratar de um ataque a uma cidade que, nessa época, era mais importante do que Lisboa. A sua população, segundo alguns historiadores, rondava entre vinte a trinta mil habitantes; possuía óptimos edifícios, estabelecimentos, celeiros e mesquitas, tudo muito bem protegido por altos muros e grandes torres. A alcaçóva (castelo) ficava no alto de um monte, muito bem defendida.

O ataque foi executado por um exército combinado: o português comandado pelo próprio Rei e outro constituído por um grupo de Cruzados, de diversas nações, que iam a caminho da Terra Santa. O cerco foi efectuado por mar e terra, tendo os navios subido o rio Arade até Silves; procedendo-se então à "arte" da poliorcética com diversas investidas, por meio de máquinas de arremesso, torres e escadas de assalto, por intermédio de minas, etc.

Aqui iremos analisar os trajes, armamento, equipamento, etc., dos dois lados em contenda, não só pela curiosidade que este objecto poderá suscitar, mas também porque a bibliografia sobre este assunto é extremamente escassa e rara. Não me refiro ao facto histórico em si (tomada de Silves) em virtude de quase todos os historiadores e terem descrito, com mais ou menos pormenor, nos seus compêndios e livros devido a ter sido um facto importante no reinado de D. Sancho I; refiro-me antes à grande diversidade de armamento, defensivo e ofensivo, utilizado pelos contentores, na medida em que as influências eram enormes, não podendo esquecer que além dos portugueses, os cruzados que nos ajudaram eram oriundos das mais diversas nações: flamengos, normandos, alemães, escoceses, dinamarqueses e muitos ingleses, entre outros. Não restam dúvidas que a maior influência que sofremos foi dos normandos; ao analisarmos a indumentaria utilizada pelos nossos e pelos outros, praticamente não existia diferença.

O nosso armamento e equipamento era o que se utilizava por toda a Europa, embora de início (Conde D. Henrique e D. Afonso Henriques) tenha predominado a influência borgonhesa, pela origem do avô de D. Sancho I, e outras devido à quantidade e variedade das proveniências dos cruzados que demandavam a nossa costa a caminho da Terra Santa e que nos tinham sempre auxiliado nas conquistas. De todos os lados nos chegavam: Flandres, Colónia, Bretanha, Bolonha, Escócia, Dinamarca, Noruega, etc.


D. Sancho I
Aguarela do mestre Carlos Alberto Santos
Por especial autorização
Colecção particular
Como facilmente se poderá deduzir todas essas influências acabavam por deixar um pouco de si e isto sem ter em linha de conta a fortíssima influência árabe que a nossa milícia sofreu ao longo dos tempos, quer em termos organizativos, quer no armamento ofensivo e defensivo.

Foi intenção apenas divulgar os armamentos mais significativos que foram utilizados pelos nossos, pelos cruzados e pelos muçulmanos durante o cerco e a tomada de Silves.

Das principais fontes consultadas sobre a tomada de Silves destaco: Relação da Derrota Naval, e Façanhas dos Cruzados que Partirão do Escalda para a Terra Santa no Anno de 1189, escrito em latim por um dos mesmos Cruzados, traduzida e anotada por João Baptista da Silva Lopes, impresso na Tipografia da Academia Real das Ciências em 1844 , que no fundo é a base de trabalho de praticamente todos os nossos historiadores; Monarchia Lusitana, IV parte, impresso em 1632; Histórias de Portugal de: Alexandre Herculano; Oliveira Martins; Damião Peres; Pinheiro Chagas; Elucidário de Frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, etc., etc.

Foram consultados igualmente: História do Exército Português de Ferreira Martins e a de Cristovão de Ayres; As Campanhas de Ya "Qub Al-Mansur" en 1190 Y 1191, por Huici Miranda; Táctica e Armas de Guerra in: Bibliotheca do Povo; Glossário Armeiro de Luís Stibbs Bandeira; Encyclopédie Diderot et D'Alembert; Diccionario Militar de Jaime Frederico Cordeiro; Le Moyen Age de Armand Dayot; The History of Chivalry and Armour de F. Kottenkamp; European Armour por Claud Blair; Encyclopédie Médiévale de Violet le Duc; Guide des Amateurs D'Armes et Armures Anciennes de Auguste Demmin e muitos outros.

                                                                                   O Autor
                                                                                      marr 

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